quarta-feira, 3 de setembro de 2014

CAROLINA MARIA DE JESUS - A VOZ DOS QUE NÃO TÊM PALAVRA


(eu tinha que publicar aqui no blog!)







Carolina Maria de Jesus - foto:
Arquivo Jornal Ultima Hora


"O livro... me fascina. Eu fui criada no mundo. Sem orientação materna. Mas os livros guiou os meus pensamentos. Evitando os abismos que encontramos na vida. Bendita as horas que passei lendo. Cheguei a conclusão que é o pobre quem deve ler.

Porque o livro, é a bussola que ha de orientar o homem no porvir (...)"

- Carolina Maria de Jesus, em "Meu estranho diário". São Paulo: Xamã, 1996, p. 167.


CENTENÁRIO DE CAROLINA MARIA DE JESUS


[1914 - 2014]


Carolina Maria de Jesus (Sacramento MG, ca.1914 - São Paulo SP, 13 de fevereiro de 1977). Autora de diários e romance e também poeta. De família pobre, composta por mais sete irmãos, trabalha desde a infância. Sua escolaridade se resume aos dois anos que frequenta o Colégio Allan Kardec, provavelmente em 1923 e 1924. Neste ano, muda-se com a família para uma fazenda em Lageado, Minas Gerais, onde trabalham como lavradores. Retorna a Sacramento, em 1927, e, por causa das dificuldades econômicas, migra para Franca, São Paulo, em 1930, passando o primeiro ano na fazenda Santa Cruz e, depois, na cidade, onde trabalha como ajudante na Santa Casa de Franca, auxiliar de cozinha e doméstica. Com a morte da mãe em 1937, vai para São Paulo em busca de melhores condições de vida. De 1948 a 1961, reside na favela Canindé, sobrevivendo como catadora de papel e ferro velho. Em 1958, o jornalista Audálio Dantas, numa reportagem sobre a inauguração de um playground no Canindé, conhece Carolina e se interessa pelos seus 35 cadernos de anotações em forma de diário, e publica um artigo na Folha da Noite. Em 1959, trabalhando na revista O Cruzeiro, o jornalista divulga trechos dos relatos escritos pela autora e, posteriormente, empenha-se na publicação que reúne esses relatos, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, lançado em 1960, com notável sucesso editorial. Carolina muda-se para uma casa que consegue comprar no bairro de Santana e mantém o diário com registros do que lhe acontece ali, depois editados em Casa de Alvenaria: Diário de uma Ex-favelada, em 1961. Em 1963, publica Pedaços da Fome, seu único romance, que tem pouca repercussão. Em função dos contínuos desentendimentos com seus editores, bem como das dificuldades enfrentadas para manter-se em evidência e adaptar-se à vida no bairro de classe média, muda-se para um sítio no bairro de Parelheiros, São Paulo, em 1969, onde é praticamente esquecida pelo mercado editorial, apesar de algumas tentativas de voltar à cena literária. Após sua morte, são editadas obras escritas entre 1963 a 1977, das quais a mais significativa é Diário de Bitita, com suas memórias de infância e juventude, inicialmente lançado na França.









Carolina Maria de Jesus - foto: (...)



Comentário Crítico


Em Quarto de Despejo, a mulher negra e favelada, com pouca escolaridade, registra o cotidiano de pobreza que rege seus dias, bem como a humilhação social e moral a que estão sujeitos os habitantes da favela do Canindé. As anotações de Quarto de Despejo, embora com descontinuidades cronológicas, não apresentam quebras na estrutura narrativa: cada dia é igual a todos os outros, e o que conduz o fluxo da vida é a fome e a luta contra ela. Nelas se pode constatar que o trabalho, precário, não traz mais do que a condição mínima da sobrevida e a reprodução da pobreza.


Nos apontamentos de seu dia-a-dia, Carolina Maria de Jesus oscila entre desânimo e alegria, sentimentos norteados pela carência de condições materiais para manter-se e a seus filhos em situação digna. Ao tratar dos outros moradores da favela, Carolina Maria de Jesus busca diferenciar-se e deixa documentada, em tom de denúncia ou de moralização, a perda da honra daqueles que, excluídos, estão no "quarto de despejo" da cidade. Escrever sobre a favela não é apenas uma forma de tentar dar sentido à própria vida, mas também de revelar a miserabilidade implicada na modernização dos anos 1950.


O relato do cotidiano da favela é direto e cru, sem que se temam os temas-tabus, como a ocorrência de incestos e de relações promíscuas, bem como o horror que a fome pode produzir. Estilisticamente, os recursos da repetição e das frases feitas indicam, no plano do sentido, o fechamento e a imobilidade do mundo social ali representado; a cada entrada no diário, a autora anota o horário em que acorda, os gastos que terá se quiser se alimentar e vestir os filhos e o que poderá, ou não, acumular em dinheiro, o qual tem valor concreto e imediato, quase como um objeto. Os momentos de lirismo aparecem em anotações sobre a natureza, que surge como contraponto ao estado da miserabilidade a que são confinados os pobres.





Carolina Maria de Jesus - foto: Arquivo
Jornal Ultima Hora (29.07.1959)



Fugindo aos cânones do que se considera "literatura" em meios acadêmicos, Quarto de Despejo é mais do que um simples depoimento; trata-se de uma obra em que, a despeito das condições materiais e culturais de sua autora, constrói-se uma forte e única representação da dinâmica social urbana, vista pelo ângulo dos que são lançados à margem. Carolina Maria de Jesus escreve para denunciar a favela e para sair dela; escreve também para, diferenciando-se dos outros moradores, lutar contra o rebaixamento a que estão sujeitos os miseráveis, num momento em que se anuncia novo salto modernizador de São Paulo e do Brasil.


Em Casa de Alvenaria, notam-se mais explicitamente as contradições da autora quanto ao que deseja para si mesma e para sua família. Também ficam patentes suas hesitações com relação aos anseios por reconhecimento público ou ao repúdio pelos mecanismos sociais que dificultam o trajeto profissional como escritora. Essa conjunção, por vezes discrepante, ajuda a entender as razões pelas quais essa obra é considerada pouco significativa e muito voltada para o trajeto instável de um indivíduo. Confinada à forma do diário, Carolina Maria de Jesus parece se sentir compelida a repetir uma fórmula, cujo efeito não tem a força de revelação de Quarto de Despejo. A figura da ex-favelada não desperta interesse, porque ela e sua obra são objeto de atenção apenas enquanto revelam a face negativa do desenvolvimentismo; já as oscilações ideológicas da mulher que, famosa, busca a atenção da imprensa e do público não trazem à época elementos que se julguem significativos.







Carolina Maria de Jesus - foto: (...)



Diário de Bitita, publicado após a morte da autora, resgata a força literária da produção de Carolina Maria de Jesus. Trata-se de memórias da infância e da adolescência, em Sacramento e nas fazendas onde trabalha como colona, bem como de seus primeiros tempos em Franca. Nesta obra, os temas da injustiça social, da opressão, do preconceito contra os negros, dos abusos dos poderosos são apresentados a partir da perspectiva daquela que os viveu. Apesar de suas condições materiais, Carolina Maria de Jesus lutou para conquistar dignidade e para se constituir como alguém que resiste à exploração e à desumanização. A obra testemunha a história dessa luta e da opressão a que estão confinados os pobres no Brasil das primeiras cinco décadas do século XX.

** Fonte: Enciclopédia de Literatura/Itáu Cultural


"A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago."


- Carolina Maria de Jesus, em "Quarto de despejo", 1960.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

12 MULHERES INSPIRADORAS E PIONEIRAS

Primeira mulher a comandar o Fed (Banco Central Americano)
A economista norte-americana Janet Yellen, de 67 anos, tornou-se a primeira mulher a liderar o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, em 100 anos de história da instituição. Janet foi nomeada ao cargo pelo presidente Barack Obama e assumiu o posto em 31 de janeiro deste ano com a promessa de manter a política econômica do país.
slide_365398_4151428_compressed

Primeira mulher a presidir o Superior Tribunal Militar brasileiro
A ministra Maria Elizabeth Rocha, 54 anos, tornou-se a primeira mulher a comandar o Superior Tribunal Militar, em 206 anos de história. Ela tomou posse em meados de junho como presidente da Corte e deve ficar no cargo até março de 2015. Ao assumir o posto, Elizabeth prometeu lutar contra a desigualdade de gênero e a homofobia nas Forças Armadas brasileiras.
slide_365398_4151446_compressed

Primeira mulher a ganhar o “nobel” de matemática
Na metade de agosto, a iraniana Maryam Mirzakhani, de 37 anos, foi a primeira mulher a ganhar a medalha Fields, oferecida pela União Internacional de Matemática (IMU). Criada em 1936 anos, a premiação é considerada o Prêmio Nobel da área. Radicada nos Estados Unidos, Maryam é professora de Stanford, na Califórnia, especializada em geometria.
slide_365398_4151438_compressed

Primeira mulher a comandar uma montadora
A norte-americana Mary T. Barra, de 52 anos, tornou-se a primeira mulher a controlar uma grande montadora nos Estados Unidos. Em janeiro, ela assumiu a presidência da General Motors, tornando-se também a única mulher no alto escalão da empresa. Após assumir o posto, Mary se comprometeu em investir em tecnologia híbrida para veículos.
slide_365398_4151436_compressed

Primeira mulher a ganhar quatro estrelas na Marinha americana
Pela primeira vez, uma almirante mulher da Marinha americana foi promovida a uma oficial quatro estrelas. Michelle Howard, 54 anos, foi nomeada vice-chefe de operações navais no começo de julho. Em 1999, tornou-se conhecida por liderar a missão de resgate do capitão Richard Phillips, história que inspirou o filme “Capitão Phillips”, com Tom Hanks.
slide_365398_4151422_compressed

Primeira mulher a ser condecorada na Marinha brasileira
A Capitão-de-Corveta Raquel Castilho tornou-se a primeira mulher a ganhar a Medalha Meríto Anfíbio. Criada em 1988, é uma importante condecoração da Marinha brasileira. Raquel entrou na instituição como profissional de informática, em 1999, e, hoje, faz parte da tripulação do Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra

Primeira mulher a chefiar uma missão de paz da ONU
A general norueguesa Kristin Lund, de 56 anos, é a primeira mulher a comandar militarmente uma operação de Paz das Nações Unidas, o famoso exercíto de capacete azul. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nomeou Kristin como chefe da Força das Nações Unidas para Manutenção da Paz no Chipre (UNFICYP), em maio deste ano.

Primeira mulher a ser prefeita de Paris
A política francesa Anne Hidalgo, de 55 anos, passou a ser a primeira mulher a comandar a cidade de Paris. Eleita pelo Partido Socialista, Anne terá o desafio de dirigir o principal centro urbano da França, com mais de 2 milhões de habitantes, e maior ponto turístico do mundo. Ela promete investir em áreas, como saúde, moradia e segurança pública.
slide_365398_4151442_compressed

Primeira mulher a presidir o Senado chileno
A senadora Isabel Allende Bussi, de 69 anos, tornou-se, em março, a primeira mulher a presidir o Senado Chileno. Filha do presidente deposto, Salvador Allende, ela ficou encarregada por entregar, simbolicamente, a faixa presidencial a Michele Bachelet na cerimônia de posse da presidente reeleita.
slide_365398_4151426_compressed

Primeira mulher a levar prêmio de melhor clip de rock no VMA
A cantora neozelandesa Lorde, de 17 anos, foi a primeira a ganhar o prêmio de melhor clipe de rock, no Video Music Awards, da MTV norte-americana, com seu hit “Royals”. O fato de alguns críticos classificarem seu estilo musical como pop não impediu que ela faturasse a estatueta na cerimônia, que aconteceu no fim de agosto.
slide_365398_4151432_compressed

Primeira mulher negra a ser o rosto da marca Lancôme
Após faturar o Oscar de atriz coadjuvante por sua atuação no filme “12 Anos de Escravidão”, a atriz Lupita Nyong’o, 31 anos, tornou-se em abril deste ano a primeira mulher negra a representar a empresa francesa de cosméticos, Lancôme. De descendência queniana, Lupita nasceu no México e estudou na escola de Artes Dramáticas de Yale.
slide_365398_4151434_compressed

Primeira mulher negra a representar Cinderela na Broadway
A partir de setembro, a atriz norte-americana Keke Palmer, de 21 anos, será a primeira Cinderela negra na história da Broadway. O musical “Rodgers & Hammerstein’s Cinderella” terá Keke como protagonista. A atriz, que já participou de filmes da Disney e teve sua própria série na Nickelodeon, sobe pela primeira vez no palco da Broadway.
slide_365398_4151430_compressed
Fonte: BrasilPost


Leia a matéria completa em: 12 mulheres inspiradoras e pioneiras - Portal Geledés 
Follow us: @geledes on Twitter | geledes on Facebook