sexta-feira, 13 de março de 2015

COMO LIDAR COM O ESTRESSE NA PRIMEIRA INFÂNCIA


Mais do que poupar a criança de todo e qualquer estresse, o importante é estar perto e ajudá-la a superar essas situações

Foto: Aline Cassassa
Foto: Estar sempre ao lado, dar carinho e manter um bom ambiente familiar são formas simples de ajudar seu filho a lidar com situações estressantes
Estar sempre ao lado, dar carinho e manter um bom ambiente familiar são formas simples de ajudar seu filho a lidar com situações estressantes
"Ah, que bom era aquele tempo em que eu era criança, que não tinha preocupações, nada com que me estressar!". Há muitos adultos que dizem essa frase e relembram a infância como aquele tempo de bons ventos, em que as maiores preocupações eram fazer lição de casa ou pular o muro e enfrentar o cachorro do vizinho para pegar a bola. Tem até o célebre poema do Casimiro de Abreu: "Oh! que saudades que eu tenho / da aurora da minha vida, / da minha infância querida / que os anos não trazem mais!"
Ninguém nega que, de fato, a criança tem muuuuito menos responsabilidades do que os adultos e que a infância é um tempo de brincar e de viver sem preocupações. Mas não é por isso que ela não está sujeita ao estresse. Enfrentar um cachorro, por exemplo, é uma situação de perigo que aciona os mesmos sistemas de reação do corpo da criança que quando um adulto está se descabelando com prazos apertados no trabalho.
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Outros exemplos de momentos estressantes para uma criança: briga entre os pais, o primeiro dia de aula em uma nova escola, lidar com a morte de alguém querido, ter muitas aulas e cursos extras e viver em um bairro violento e perigoso... Tudo isso pode deixar a criança em estado de alerta. O que não é de todo mal, já que o estresse prepara o corpo para enfrentar um perigo iminente. O problema é a repetição contínua desse estado de alerta. Ficar com esse sistema de defesa ligado por muito tempo, ou repetidamente, não é nada saudável pois poderá afetar, por exemplo, o seu desenvolvimento socioemocional.
Como às vezes não é possível evitar que a criança passe pelo estresse, a atuação dos responsáveis por ela nos episódios ajudará a criança a enfrentar o problema e a estabelecer o jeito como ela vai lidar com as situações de estresse que aparecerem ao longo de sua vida. Em outras palavras, com apoio dos pais, com afeto, com colo, com o chamado apego seguro, as crianças reagem melhor ao estresse. Paul Tough, autor do livro Uma Questão de Caráter, lembra: "não se trata de protegê-las do estresse, mas de ajudá-las a lidar e a superar esse estresse".
Entenda melhor como lidar com situações de estresse no seu filho pequeno e como o papel dos responsáveis é determinante nessa rela


1. Como identificar que a criança sofre com estresse?
Há várias mudanças no comportamento que podem demonstrar que o seu filho está sendo afetado pelo estresse, como voltar a fazer xixi na cama, ficar birrento, tornar-se agressivo, chorar por nada, ser mais briguento, ficar mais tímido ou amedrontado, ter pesadelos, mostrar nervosismo. Também podem se manifestar dores físicas, como dor no estômago e tontura, e distúrbios alimentares.

Mas esses comportamentos não podem ser analisados isoladamente. Geralmente são frutos de situações que geram muito impacto nas crianças, como morte de alguém próximo, briga entre os pais e familiares dentro de casa, entornos violentos ou rotina atribulada.

"Um dos grandes desafios é que os pais, os adultos presentes na vida dessa criança estão muito ocupados para notar os estágios mais iniciais da mudança de comportamento. Começam a notar quando já existe um problema e não mais um indicador. E aí se corre atrás", explica Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR), associação internacional que se dedica à prevenção e ao tratamento do estresse.

Por isso Ana Merzel Kernskraut, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, ressalta a importância de estar ligado aos sinais e ao que o filho diz aos pais: "uma coisa importante para a gente identificar o estresse é o relato da própria criança".

No caso dos recém-nascidos, pequenas ações como permitir que o bebê chore sem consolo, não amamentar o bebê que está com fome, não oferecer conforto quando está angustiado, limitar contato corporal com ele (durante mamadas ou a noite), não dar atenção, estimulação, conversação e brincadeiras, podem gerar situações estressantes para eles.

2. Quais os níveis de estresse?
Nem todo estresse pode ser considerado prejudicial à saúde e há níveis toleráveis até que o estresse se torne tóxico. O nível de estresse está mais relacionado com a maneira como a situação é enfrentada. Lembrando que a forma como a situação estressante afeta a criança depende não só dela, mas também de como as suas relações de suporte, como os pais, ajudam-na a enfrentar tal questão. "O processamento depende muito da qualidade da relação de pais e filhos", explica Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR), associação internacional que se dedica à prevenção e ao tratamento do estresse.

O estresse positivo, chamado de eustresse, estimula e motiva a criança a enfrentar a situação. "Por exemplo: quando uma criança não consegue fazer uma tarefa e joga o material longe, deve-se abrir um diálogo, perguntar ‘o que que está acontecendo?’, apoiá-la. É mostrar a ela que aquilo pode ser feito de outra maneira", explica.

Já o distresse é o estresse que intimida e ameaça a criança, e a faz reagir de modo negativo ao problema. "Seria o caso da criança não conseguir fazer uma coisa e alguém comentar ‘você não faz nada direito’", diz Ana Maria.

Quando a ajuda é falha ou os eventos de estresse são crônicos e incontroláveis, o sistema de controle do estresse do corpo pode ficar ativado por prolongados períodos do tempo, o que tornaria o estresse tóxico.

3. Qual a importância de lidar com o estresse durante a primeira infância?
Durante a primeira infância, o cérebro está em pleno crescimento e desenvolvimento. O bebê nasce com cerca de um quinto do tamanho do cérebro do adulto. Ao final do primeiro ano, está com cerca de 60% do cérebro desenvolvido, e ao final do terceiro com cerca de 90%. Ou seja, além de uma impressionante velocidade de desenvolvimento na primeira infância, o cérebro do bebê tem muito mais conexões neuronais do que o cérebro dos adultos. "Essas características fazem dele mais vulnerável nessa fase: experiências estressantes e traumáticas têm muito mais probabilidade de gerar mudanças irreversíveis no cérebro se acontecerem na primeira infância", explica Andréia C. K. Mortensen, neurocientista da Faculdade de Medicina da Universidade Drexel, nos Estados Unidos.

4. Como o estresse tóxico pode afetar o desenvolvimento da criança?
"O nível de estresse a que a criança é submetida vai interferir em seu desenvolvimento físico e emocional", revela Ely Harasawa, psicóloga e gerente de programas da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal.

Uma situação de perigo ativa uma série de circuitos neurais no cérebro e glândulas adrenais no corpo, o que é chamado de eixo HPA (hipotálamo-pituitária-adrenal), responsável por colocar o corpo em alerta para enfrentar um estresse. O hipotálamo libera uma substância química chamada CRH (corticotrofina), que regula todo o sistema e ativa as glândulas que liberarão hormônios como o cortisol no sangue. O cortisol, por exemplo, quando liberado rapidamente, pode elevar a pressão arterial e cardíaca, é ligado a liga algumas respostas de imunidade, enaltece certos tipos de memória e mobiliza as reservas de energia. Boca úmida, ansiedade e medo são alguns outros sinais das reações defensivas do corpo a essa situações estressantes.

Como durante a primeira infância os circuitos neurais são mais maleáveis, é nesse período da vida que o sistema de reação ao estresse aprende a ser ativado ou desligado, mais rapidamente ou não. Logo, isso significa que, passando por estresse tóxico, o sistema fica sobrecarregado e a criança pode "aprender" a ter uma resposta ruim ao estresse, como ativar o sistema muito cedo ou demorar a desligá-lo. Ou seja, ela pode se mostrar impulsiva ou se sentir ameaçada em situações que na realidade não há perigo algum. "Altos níveis de estresse na primeira infância moldam permanentemente as respostas ao estresse no cérebro, que então afetam memória, atenção e emoção", explica Andréia C. K. Mortensen, neurocientista da Faculdade de Medicina da Universidade Drexel, nos Estados Unidos.

Além disso, pesquisas demonstram que um nível alto e contínuo de cortisol pode levar a redução de sinapses (conexão entre os neurônios) e produção de neurônios em algumas regiões do cérebro, como o hipocampo - que é um dos responsáveis por inibir a ação do eixo HPA e é ligado à memória e doenças como depressão. "Foi demonstrado que neurônios no hipocampo são destruídos como resultado de estresse crônico e níveis elevados de hormônio do estresse, produzindo déficits intelectuais", acrescenta Andréia.

5. O estresse pode afetar a maneira como a criança lida com as emoções?
Sim. Outra região do cérebro que é afetada pela ativação do sistema de resposta ao estresse é o córtex pré-frontal, onde estão localizadas as funções executivas (conjunto de habilidades cognitivas) e que realiza uma atividade de autorregulação (emocional e cognitiva) do corpo. Por isso que o estresse tóxico pode levar a comportamentos mais impulsivos, como uma criança bater no colega ou ficar histérica (e todos os outros comportamentos listados no item 1.), já que pode dificultar a forma como ela regula as suas emoções. 

A falta de controle do impulso emocional decorrente desses ambientes de muito estresse vai por vezes afetar o desempenho escolar da criança, porque ela ficará mais inquieta, terá dificuldade de concentração e pouca determinação para superar decepções. Além disso, o número de conexões neurais relativas à razão ou ao controle do comportamento tem sua produção decaídas.

"Quando não há um adulto acolhedor perto da criança, o estresse tóxico pode reduzir o número de conexões neuronais em regiões importantes do cérebro, num período em que as crianças deveriam estar desenvolvendo conexões novas", explica o professor Jack Shonkoff, diretor do Centro para o Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos
6. Como posso ajudar meu filho a lidar com essas situações de estresse?
Estando presente, dando carinho e mantendo um bom ambiente familiar.Pode parecer senso comum, mas a importância da presença dos pais ao lado da criança na hora das situações de estresse é baseada em fatos científicos.

Uma das pesquisas que comprovam isso foi realizada pelo neurocientista Michael Meaney, da Universidade McGill, no Canadá, utilizando ratos, já que esses roedores e os seres humanos têm arquitetura cerebral semelhante. Ele percebeu que as mães roedoras tinham diferentes padrões de carícias para com os seus filhotes: algumas acariciavam e lambiam os seus ratinhos após eles serem manipulados no laboratório e colocados de volta em suas jaulas, enquanto outras não faziam isso. Ele observou melhor o que essa simples atitude da mãe acarretava no ratinho e constatou que as carícias da mãe neutralizavam a ansiedade e diminuíam a explosão hormonal que era gerada pelo estresse da manipulação no laboratório em seus filhotes.

Buscando perceber as consequências a longo prazo da falta ou não de carinho dos pais em situações de estresse, Michael e sua equipe realizaram outros testes com os filhotes já separados de suas mães e amadurecidos, com pouco mais de três meses de idade. Em um deles, conhecido como o teste do campo aberto, os ratinhos eram colocados em uma caixa grande aberta e deixados para explorá-la por cinco minutos. Os ratos que tiveram mães que os acariciavam muito quando pequenos se mostraram mais desbravadores e corajosos, saindo de perto da parede e explorando outros lugares da caixa. Já os que não tiveram esses hábitos de carícia ficavam perto da parede e andavam em círculos.

De outros sucessivos estudos, os resultados eram sempre os mesmos: os ratinhos que tiveram mais carinho quando pequenos eram mais sociáveis, mais curiosos, menos agressivos, tinham mais autocontrole, eram mais saudáveis e até viviam por mais tempo!

Em humanos, algumas pesquisas descobriram fatos semelhantes. Uma delas foi realizada por Clancy Blair, pesquisador de psicologia na Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, com mais de 1200 crianças desde o nascimento. Ele percebeu que situações como brigas familiares e caos e tumulto no cotidiano da criança afetam os níveis de cortisol dela, mas somente quando ela não é amparada pelos cuidados e atenção da mãe. "As situações podem ser positivas ou negativas, e depende de como a criança vai percebê-las. Se ela se sentir abandonada, insegura, é claro que a reação dela vai ser bem diferente", diz Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR).

7. O carinho é essencial neste processo?
Sim. O abraço e o beijo, assim como o ato de amamentação, produzem ocitocina, um hormônio que influencia a formação cerebral, está ligado à capacidade de vínculo e ajuda a acalmar situações estressantes. Um estudo recente, publicado no periódico científico PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America) em 2012, revelou que uma boa maternagem na infância leva ao aumento do hipocampo. "Os pesquisadores descobriram que crianças emocionalmente saudáveis tinham hipocampos maiores que os de crianças deprimidas", explica Andréia C. K. Mortensen, neurocientista da Faculdade de Medicina da Universidade Drexel, nos Estados Unidos.

Essas carícias e atenção dos pais são reflexos do que os cientistas classificam como apego, teoria desenvolvida nas décadas de 50 e 60 por John Bowlby e Mary Ainsworth, que mostrou a importância de um cuidado afetuoso na infância para o desenvolvimento pleno da criança. Em termos práticos, significa acolher o bebê e tentar minimizar as suas necessidades quando ele começa a chorar - e não deixá-lo de lado com medo de "mimá-lo".

Mary Ainsworth, na Universidade John Hopkins, mostrou, através de um método chamado de Situação Estranha, que as crianças apegadas às mães de maneira segura conseguiam se controlar quando eram separadas delas de repente (um exemplo de situação estressante) e mostravam uma recepção calorosa às mães quando voltavam. Ela constatou, ainda, que essa reação estava diretamente ligada à maneira como os pais acolhiam a criança quando bebê. "Mesmo quando a mãe ignora seu bebê temporariamente, isso já basta para causar estresse na criança", diz Andréia.

Além disso, pesquisas da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, um centro importante de estudos do apego, mostraram que as crianças com apego seguro precoce (ou seja, cujos pais estão atentos às suas necessidades desde a primeira infância) desenvolviam mais suas competências sociais. Isso significa que tinham mais facilidade para fazer amigos e interagir com outras pessoas, mostravam mais autoconfiança, eram mais calmas e sabiam enfrentar melhor situações adversas que as crianças com apego ansioso (cujos pais não lhes davam tanta atenção). "O cuidado precoce das mães tinha fomentado neles uma resiliência que funcionou como proteção contra o estresse", escreve Paul Tough em seu livro Uma Questão de Caráter.

"Uma criação com apego é importante: quando os pais instintivamente curtem uma proximidade com seus bebês, amamentando-os em livre demanda, respondendo rapidamente a seus choros, desejos e necessidades, a natureza se designa a desenvolver adultos sensíveis e responsáveis", diz Andréia.

8. Falar sobre o problema ajuda?
Sim. Além da presença dos pais, a coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein Ana Merzel Kernkraut também lembra a importância de dar exemplo e espaço para a criança se expressar. "Sempre o ideal vai ser a gente evitar que a criança tenha tanto contato com situações estressantes. Mas uma das maneiras é acolher, e a outra é compartilhar como a gente se sentiu. Em um assalto, por exemplo, mostrar que ficamos com medo também faz a criança pensar: ‘se a mamãe tem medo e ela pode lidar com isso, eu também posso’", diz.

"É mostrar para as crianças que é possível se recuperar depois de um estresse. Que podem, por exemplo, ter um acesso de raiva e superá-lo sem a ajuda de um adulto. Deixá-las perceber que podem lidar com esses sentimentos fortes e negativos é uma ótima oportunidade e experiência", explica Paul Tough, jornalista e autor canadense do livro Uma Questão de Caráter.

9. Como as políticas públicas podem contribuir para um melhor desenvolvimento da criança?
A pesquisa de Michael Meaney, da Universidade McGill, no Canadá, também demonstrou que não há uma predisposição genética em saber lidar com o estresse. Ele pegou uma ninhada de ratinhos de uma mãe que não lambia nem acarinhava e colocou-os sob a guarda de uma mãe afetiva. O resultado desses ratinhos foi similar ao de seus irmãos de criação. Ou seja, não importa o gene, mas o afeto do cuidador.

"É importante oferecer uma criação com apego em todos ambientes. Isso inclui todos que cuidam da criança: familiares, cuidadores de creches, escolas, etc", explica Andréia C. K. Mortensen, neurocientista da Faculdade de Medicina da Universidade Drexel, nos Estados Unidos.

Isso leva à necessidade de políticas públicas que reforcem ou deem suporte aos pais logo após o nascimento dos filhos, sejam eles biológicos sejam adotivos, para que possam aproveitar esse tempo de qualidade para estar presente durante essa fase do desenvolvimento da criança. Daí a importância ao direito à licença maternidade ou paternidade, por exemplo.

Lei nº 12.873, sancionada em 24 de outubro de 2013, por exemplo, passou a dar o direito à licença-maternidade e ao salário-maternidade para pais adotivos. Ela também estipula que o pai pode requisitar os benefícios caso a mulher não seja assegurada pela Previdência, sendo ele o afastado do trabalho para ficar com a criança pelo período de 120 dias. Casais homoafetivos que adotem crianças também podem solicitar esse benefício.

É preciso que as políticas de assistência ao pré-natal e ao parto garantam um ambiente o mais saudável possível à criança em todo o seu contexto. "Somente quatro meses (seis, em alguns casos) de licença maternidade é muito pouco, sabendo que o retorno ao trabalho é uma fase estressante e difícil para a dupla mãe-bebê e que as creches tem pouco treinamento para acolher o bebê de forma a oferecer um vínculo emocional saudável", diz Andréia.

"É extremamente importante lidar com o estresse durante a primeira infância, porque esse primeiro contato, essa comunicação perdurará por muitos anos. Uma percepção negativa da criança e uma falta de carinho possivelmente repercutirá no seu comportamento futuro", explica Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR).

10. O que acontece com as crianças que não aprendem a lidar com o estresse?
Ela estará mais suscetível a tornar-se uma pessoa insegura, de baixa autoestima e baixa autoconfiança, mais ansiosa e pessimista, com comportamentos mais agressivos ou passivos e com tendências a desenvolver fobias ou crises de pânico, alto risco de infarto e diabetes.

"Uma criança negligenciada, condicionada com castigos e com choro sem consolo, lidará pior com situações de estresse no futuro, pois passou por um processo de ‘hiper-sensibililização’ dos sistemas de estresse", diz Andréia C. K. Mortensen, neurocientista da Faculdade de Medicina da Universidade Drexel, nos Estados Unidos.

Pais que superprotegem as crianças também não estão ajudando-as a se desenvolverem, já que impedem que elas saibam como lidar com essas situações adversas ao longo da vida, tornando-as inseguras e sem nenhuma autodefesa. "O sofrimento é maior. Aquela pessoa que sempre foi poupada está mais despreparada e este despreparo aparece em muitos de seus pânicos e medos. Afinal, que condições ela tem para lidar com isso?", explica a coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein Ana Merzel Kernkraut.

A longo prazo, por exemplo, as dores que a criança sente em situações estressantes, como dor de cabeça ou de barriga, podem se tornar crônicas ou mesmo uma desculpa. "A criança começa a usar a dor como uma forma de não fazer alguma coisa, como subterfúgio", diz Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association (ISMA-BR).

Estudos também mostraram que maus-tratos sofridos na infância aumentam as chances da criança desenvolver problemas cardiovasculares na idade adulta e que pode haver uma relação entre as experiências adversas nos primeiros anos de vida e maior uso de álcool e drogas quando adultos. Crianças expostas a longos períodos de estresse também apresentam níveis de serotonina mais baixos na idade adulta, que significa maior propensão à ansiedade e à depressão. O estresse tóxico também pode destruir neurônios no hipocampo, estrutura cerebral importante para o aprendizado e a memória. "O corpo não esquece. Esses adultos não continuarão necessariamente a sofrer depois da infância, mas seus corpos guardarão uma memória biológica dessa experiência", diz o professor Jack Shonkoff, diretor do Centro para o Desenvolvimento Infantil da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

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